Aconteceu algo recentemente que fez com que me sentisse mais ou menos como espécie ameaçada. Um grupo de empresas transnacionais de internet, incluindo Google, Facebook, Apple e várias outras, em movimento perfeitamente sincronizado, removeram conteúdo que pertencia ao blog infowars.com, mantido por Alex Jones. A sincronicidade é sinal garantido de conspiração – tema do qual Alex Jones nunca se cansa.
Certa vez fui entrevistado num programa comandado por Alex Jones e ele, sim, deu jeito de engolir o que eu tinha a dizer, que "os EUA virão abaixo, como a URSS veio abaixo," o que é excelente, considerando que mal conseguíamos nos olhar na cara, tão pouco há de comum entre nós. Jones diz que é conservador e libertarista; e eu acho que não há conservadores nos EUA. O que afinal teriam eles "conservado" nos últimos tempos – além do direito de portar armas leves? Quando ao libertarismo, acho que os libertaristas históricos que fizeram sentido [adequadamente ditos "libertários" e "anarquistas" (NTs)] eram um ramo do socialismo. E os norte-americanos que que se dizem pró-liberdade e pró-Polícias, só querem liberdade para roubar o próximo, e só até que precisem de ambulância ou de bombeiros; e nesse momento viram socialistas. Para completar, libertaristas norte-americanos são feito Ayn Rand, que para mim nunca passou de escritora ruim, ensinadora de ideias capengas. Mas até que é útil, como teste limite para identificar, na massa, as mentes mais irremediavelmente medíocres.
Além do mais, Jones é político, e eu permaneço convencido de que a política nacional nos EUA é perda de tempo. Já está estatisticamente confirmado que os EUA não são democracia: a vontade popular tem efeito exatamente zero na política pública. Nem interessa quem seja o presidente; a diferença fica só no estilo. Trump é touro em loja de porcelana; Clinton teria sido cervo hipnotizado pelos holofotes do caminhão. O resultado não mudaria: EUA em bancarrota, e o império norte-americano, acabado.
Há também a incompatibilidade de gênero entre Jones e eu. Sou, em primeiro lugar, homem de experiências e ensaios e, para mim, a experiência pessoal e a forma literária são vitalmente importantes; Jones é ruim de pesquisa e adora trabalhar com boatos e diz-que-dizes, e é bem banal e repetitivo, mas tem os instintos certos do demagogo e agitador. É fruto de uma longa tradição norte-americana de pregadores itinerantes vomitadores de jeremiadas, espancando Bíblias e cuspindo fogo e enxofre. O conteúdo é secular, mas as técnicas retóricas são revivalistas. É cansativo, estridente e emocional. Há também algo de camelô de carnaval no makeup cultural do homem, e não parece impossível imaginá-lo como caixeiro viajante, batendo de porta em porta com ofertas de revivalismos e unguentos cura-tudo.
Isso posto, partilhamos algumas importantes similitudes. Nem ele nem eu somos parte da narrativa oficial incansavelmente martelada nas casas pela mídia norte-americana de massas, com resultados cada dia mais pobres. Americanos que pensam simplesmente já não são perfeitamente crédulos. Jones explorou essa carência de credulidade no grande público o mais que pôde, perseguindo cada teoria da conspiração que apareceu por aí. E eu sou como vocês: crédulo. Claro. Uns poucos turistas árabes armados com canivetes destruíram três arranha-céus de aço, metendo neles, paredes adentro, dois aviões de alumínio. Faça cada um as próprias contas, mas não passa de 2/3 de avião por arranha-céu – claro que dava e sobrava, ok? Combustível de avião, que queima em temperaturas entre 426º e 815º C, derreteu colunas de aço (o aço derrete a 1.510ºC). Duas latas de alumínio carregadas com querosene, carne humana e bagagem destruíram três estruturas de aço. Acho a explicação perfeitamente satisfatória. Você não? Se precisar saber mais, é só procurar, é fácil; mas não conte comigo, porque, crédulo, estou perfeitamente convencido.
Jones e eu também somos diferentes no quesito popularidade: ele é imensamente popular, e eu sou popular que chegue, para meu gosto, e de modo geral sou pobre em ambições mundanas. Gosto de escrever, meus leitores gostam do que escrevo e todos vivem felizes, exceto as crianças, porque enquanto escrevo não brinco com eles. Mas Jones está ficando popular demais, imenso, popular o suficiente para deslocar a imprensa de massas, que perde fatias cada vez maiores no share das mentes.
Em parte é culpa da própria imprensa de massas: até onde os jornalistas supõem que conseguirão chegar apostando nesse pangaré da "colusão russa" com "interferência dos russos", antes de o povo suspirar de tédio e puxar o carro?
Em parte, a diarreia que se ouve na CNN ou lê-se no nytimes.com deveria operar como cortina de fumaça, porque a verdade virou veneno contra os interesses dos encarregados da mídia de massas nos EUA. Na 5ª-feira prometo elaborar mais sobre esse tema.
A decisão política de censurar Jones foi sinal de desespero: a diarreia verbal não está funcionando, então, chamem o Plano B, que manda gritar "Cale a boca!" o mais alto possível.
Dada essa enorme e florescente popularidade (que os ataques recentes contra ele na verdade só aumentaram), Jones é alvo enorme; eu sou alvo mixuruca. Mas mesmo assim, primeiro vieram por Alex Jones, e depois podem muito bem vir por mim. Portanto, é chegada a hora de começar a prestar atenção e reagir.
Essas entidades de internet – Google, Facebook, Apple, Google Podcast, Spotify, iHeartRadio, MailChimp, Disqus, LinkedIn, Flickr, Pinterest e muitas outras – não têm mais direito de censurá-lo do que a sua empresa de telefonia tem direito de mapear todas as chamadas que você recebe ou faz para números que você teria de ter pleno direito de chamar. O que foi feito contra Jones foi descaradamente ilegal sob a lei norte-americana e sob a lei internacional.
Embora aquelas empresas nada tenham a temer da lei norte-americana, que politicamente e acintosamente as protege, muito elas têm a temer internacionalmente.
Jones, como qualquer um vê, não violou os termos de uso desses serviços de internet. Mesmo assim, o cortaram das redes. Na discussão pública que precedeu o evento, incluídas as discussões no Congresso dos EUA, reverberaram expressões como "discurso de ódio" e "incitação à violência". São expressões suficientemente vagas para serem usadas arbitrariamente contra alguns dos inimigos da 'autoridade', ao mesmo tempo que são liberadas e permitidas para os amigos dela, com plena imunidade, além de completamente fora de contato e com todos os fatos fora de consideração. Por exemplo, há dois anos, aconteceu a seguinte troca de ideias entre o ex-diretor interino da CIA Michael Morell e Charlie Rose:
Morell: "Temos de fazer os russos pagar o preço pelo que fazem na Síria."
Rose: "E matando russos, nós os fazemos pagar o preço?"
Morell: "É."
O contexto e os fatos são: os russos estavam na Síria por convite oficial do governo sírio, governo legítimo e reconhecido pela comunidade internacional, para derrotar terroristas e mercenários estrangeiros e para restabelecer o controle da Síria sobre o próprio território soberano. As forças dos EUA não faziam coisa alguma que beneficiasse os sírios e, fizessem o que fizessem, era ilegal: na Síria, os norte-americanos eram força invasora. E lá estava Morrell propondo que os EUA matem soldados russos que lutam contra terroristas, para... 'mandar um recado' aos russos. Se isso não for "incitação à violência", não imagino o que seja. E dois anos inteiros depois, esse escândalo que é a PBSpermanece no ar; como assim?!
À parte a gritaria espúria de "discurso de ódio" e "incitação à violência", aconteceu que Washington DC emitiu uma ordem para calar Jones.
Respondendo a ela, um grupo impressionantemente amplo de empresas transnacionais de internet bateram continência e marcharam para executar a ordem – o que pelo menos serviu para que todos víssemos para quem trabalha o grupo todo. Agora, parece que o 'movimento' vai-se tornar enorme problema para eles.
Primeiro, essas empresas transnacionais têm autorização para fornecer serviços por todo o planeta, regidas pelo direito internacional. O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos protege o direito à liberdade de opinião e expressão: "Todos têm o direito à livre expressão e manifestação de opiniões; esse direito inclui a liberdade de ter e defender opiniões sem qualquer interferência, e de buscar, receber e distribuir informação e ideias pela mídia, qualquer mídia e sem considerar fronteiras." Jones tem todo o direito de recorrer à Corte Europeia de Direitos Humanos em Strasbourg, França, processar os EUA e as empresas que o censuraram e exigir retratação e reparação, tanto das entidades do governo dos EUA que deram a ordem ilegal (a serem identificadas no curso da instrução do processo), como das empresas transnacionais que executaram a ordem ilegal.
Segundo, essas empresas transnacionais operam no mundo todo baseadas em leis locais que em muitos casos impedem-nas de agir como agentes de governos estrangeiros (a menos que estejam registradas como tais). Se Google e Facebook executam ordens que recebem do governo dos EUA, sem dúvida agem em todos os países onde agem, não como empresas comerciais, mas como representantes-agentes clandestinos de governo estrangeiro. Serem reconhecidas como tais limitaria consideravelmente o alcance internacional, o potencial de crescimento e o valor das ações dessas empresas.
E, dado que Google, Facebook e Apple são empresas de capital aberto, dedicadas a defender o maior valor possível para as próprias ações, no interesse também dos acionistas, é mais que hora de os acionistas acordarem e trocarem toda a equipe de gestão dessas empresas. Afinal, o que seria mais lucrativo para todos: conspirar ilegalmente, clandestinamente, com o governo dos EUA ao mesmo tempo em que a empresa vai-se convertendo em pária e perde mercado, ou manter atenta distância de todos os governos e governantes, cuidando de se manter nos estritos limites da legalidade internacional?
Ainda há tempo para consertar todos os erros: declarem que erraram. Restaurem os serviços. Compensem todo o dinheiro que Jones perdeu. E prometam nunca mais repetir os mesmos erros e crimes.
Nunca duvidei disso, mas a maioria do povo é burra pra caralho!!!
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