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domingo, 10 de novembro de 2013

Os sonhadores que previram o sucesso do gás de xisto nos EUA

Associated Press – Trabalhadores num campo de fraturamento hidráulico no Colorado

GREGORY ZUCKERMAN

Os especialistas continuam errando. E os excêntricos continuam acertando.

Nos últimos cinco anos, dois eventos chocaram e transformaram os Estados Unidos. Em 2007 e 2008, o mercado imobiliário desmoronou e o sistema financeiro entrou em colapso, causando trilhões de dólares em prejuízos. Quase na mesma época, alguns exploradores pouco conhecidos começaram a extrair quantidades significativas de petróleo e gás das formações de xisto dos EUA. O país, que corria o risco de ficar sem combustível, agora está a caminho de ser o maior produtor do mundo.

O que mais surpreende sobre esses dois eventos é o fato que poucos especialistas os previram — e que um grupo de improváveis forasteiros de alguma maneira os estimaram. Os presidentes do Federal Reserve, Alan Greenspan e Ben Bernanke, não conseguiram prever a crise financeira. Altos executivos dos bancos foram pegos de surpresa. E grandes investidores como Bill Gross, Jim Chanos e George Soros não conseguiram antecipar totalmente a retração econômica.

Os grandes vencedores foram pessoas como John Paulson, um especialista em fusões e aquisições que só começou a pesquisar o mercado imobiliário em 2006 e bateu o recorde de US$ 20 bilhões em ganhos para seu fundo de hedge. Jeffrey Greene, um playboy de Los Angeles, ganhou US$ 500 milhões prevendo os problemas no setor imobiliário.

Em 2006, Andrew Lahde era um desempregado de 35 anos vivendo num apartamento de um dormitório. Então, ele ganhou dezenas de milhões de dólares apostando contra hipotecas de alto risco. Michael Burry, médico com síndrome de Asperger que virou investidor, fez o mesmo.

Wall Street fala sobre a importância de nadar contra a maré. Mas em 2007, a maioria acreditou que o Fed não deixaria o mercado imobiliário desmoronar ou que o boom iria continuar.

Menos conhecida é a história da transformação do setor de petróleo dos EUA, que pegou os gigantes da indústria quase totalmente de surpresa. No começo dos anos 90, um ambicioso executivo da Chevron CVX +1.07% chamado Ray Galvin formou um grupo para perfurar as formações de xisto nos EUA. Sua equipe foi ridicularizada por céticos. A Chevron acabou desistindo do projeto e redirecionou recursos para o exterior.

A Exxon Mobil XOM +0.84% também fracassou em prestar atenção nessas formações rochosas — apesar de sua sede em Irving, no Texas, estar em cima de uma enorme formação de xisto. Ela acabou pagando US$ 31 bilhões por uma empresa menor que é pioneira na extração de xisto.

“Eu seria desonesto se dissesse que previmos tudo isso porque, francamente, não o fizemos”, disse Rex Tillerson, presidente do conselho e diretor-presidente da Exxon Mobil, em entrevista no ano passado.

Em 2003, Alan Greenspan alertou que os poços de gás natural dos EUA iam secar e pediu ao Congresso que apoiasse a construção de instalações caras para a importação do gás. Os investidores renomados Warren Buffett e Henry Kravis gastaram um valor recorde em 2007 na compra de uma empresa de eletricidade, apostando que a escassez de gás natural aumentaria os preços. Em vez disso, os EUA têm hoje tanto gás natural barato que está pronto para exportá-lo. O país está conseguindo extrair 7,9 milhões de barris de petróleo por dia, um aumento de mais de 50% desde 2006 e o maior volume em quase 25 anos.

A revitalização do setor energético dos EUA veio de um grupo de exploradores que descobriu técnicas para o fraturamento hidráulico (ou fracking, em inglês) que permite perfurar o xisto e outras rochas horizontalmente. Muitos desses homens trabalhavam à margem da indústria, alguns sem diplomas universitários ou vasta experiência em perfuração, geologia ou engenharia.

No fim dos anos 90, George Mitchell, filho de um criador de cabras grego, dirigia uma empresa de extração de gás natural de médio porte, em Houston. Com produção da empresa diminuindo e preço das ações em queda, Mitchell, de 79 anos, tinha acabado de ser diagnosticado com câncer e sua esposa estava nos estágios iniciais da doença de Alzheimer. Em quase duas décadas, sua equipe não tinha conseguido extrair gás natural suficiente das formações de xisto da Mitchell Energy DVN +0.59% . Mas, em 1998, um de seus engenheiros finalmente descobriu como fraturar corretamente o xisto, deslumbrando colegas e concorrentes maiores e dando início à revolução energética americana.

Harold Hamm cresceu pobre numa cidade pequena em Oklahoma. Ele começava o ano letivo da escola em dezembro, quando ficava muito frio no hemisfério norte para colher algodão, e começou a sua carreira limpando tanques de petróleo. Nos últimos seis anos, Hamm e sua empresa descobriram tanto petróleo na Dakota do Norte, que hoje sua fortuna está avaliada em US$ 14 bilhões. Aubrey McClendon e Tom Ward, de Oklahoma, eram especialistas em arrendamento de terras. Hoje, eles conseguiram construir a segunda maior produtora de gás do país, ao liderar a extração em poços de xisto. Charif Souki, um imigrante libanês dono de restaurante que sabia mais sobre comida árabe que de fracking, hoje controla a Cheniere Energy, LNG +3.35% empresa do Texas que deve se tornar a primeira exportadora de gás dos EUA em território contínuo.

É arriscado contrariar a sabedoria convencional e muitos inconformistas das finanças e da indústria de petróleo falharam ao fazê-lo. Mas o excessivo cuidado corporativo também têm custos. Na próxima grande revolução empresarial, será mais inteligente apostar mais uma vez em sonhadores teimosos e extravagantes.

Zuckerman é reporter especial do The Wall Street Journal e autor do livro “The Frackers: The Outrageous Inside Story of the New Billionaire Wildcatters” (em tradução livre, Os frackers: a escandalosa história dos novos e bilionários exploradores de petróleo), que está sendo lançado hoje nos EUA pela Portfolio/Penguin. Ainda não há previsão para a publicação do livro no Brasil.

Fonte: The Wall Street Journal / Plano Brasil

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