Assassinato de jornalistas no Mali: a culpa é de todos - Noticia Final

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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Assassinato de jornalistas no Mali: a culpa é de todos

No dia 2 de novembro, no noroeste do Mali desconhecidos sequestraram e mataram dois jornalistas da rádio RFI, Ghislaine Dupont e Claude Verlon. Os investigadores franceses conseguiram descobrir a identidade de três dos quatro criminosos, mas as causas do assassinato não.

Quando uma patrulha militar francesa descobriu os corpos, três horas depois do sequestro, 12 km a leste da cidade de Kidal, no norte do Mali, os militares determinaram pelos rastos deixados na areia a direção tomada pelos assassinos e na segunda-feira já tinham detido os primeiros suspeitos.

Pelos vestígios deixados na viatura abandonada já foi determinada com segurança a identidade de um e os dados de mais dois dos sequestradores. Os três pertencem à mesma família e todos eles já tinham sido referenciados pelos serviços secretos franceses. Foi confirmada a sua relação com o grupo Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM).

Segundo dados do jornal francês Le Monde, todos eles foram interrogados nos últimos meses por militares franceses que recolhiam no norte do Mali informações sobre os locais onde se escondem e atuam os grupos islamitas. Contudo, os três ainda se encontram em liberdade e ainda é impossível determinar o seu paradeiro. Neste momento estão detidos mais de quarenta possíveis cúmplices, mas nenhum deles participou diretamente na execução do crime.

A AQIM porém ainda não reivindicou a sua ligação aos homicídios. Alguns peritos consideram que essa foi a forma que ela encontrou para retaliar contra o Movimento Nacional de Libertação de Azauade (MNLA). Foi o líder deste movimento que foi entrevistado pelos jornalistas antes de serem raptados. Esse grupo separatista de tuaregues neste momento controla Kidal. Anteriormente ele era aliado da AQIM, mas com o início da operação militar no Mali ele passou para o lado da França.

Contudo o portal francês Procès-Verbal apresenta uma versão diferente diretamente relacionada com a recente mediática libertação pela AQIM de quatro cidadãos franceses. Se supõe que a AQIM esteja se vingando pelo engano e traição que sofreu por parte de Iyad Ag Ghali, o líder de outro grupo tuaregue, o Ansar Dine. Depois de se ter descoberto que o MNLA não sabia onde estavam os reféns, foi a quem recorreram os serviços secretos franceses. Ag Ghali, um inimigo declarado tanto da França, como do Mali e do MNLA, concordou, mas exigiu a liberdade de movimentação pelo norte do país de Kidal até à fronteira com a Argélia e o direito de os seus militantes não deporem as armas. Paris concordou, mas explicaremos o porquê mais adiante.

Ag Ghali recebeu da empresa francesa Areva, o empregador dos seus prisioneiros, 20 milhões de euros como pagamento do resgate. Era um valor várias vezes inferior à exigência inicial da AQIM, mas desde janeiro de 2013 que o grupo anda a ser perseguido por todo o norte do país e ele necessita desesperadamente de dinheiro para pagar aos seus combatentes e informadores, para comprar armas e manter a sua rede de contrabando de drogas.

Sabendo disso, Ag Ghali começou o “seu próprio jogo”. Usando a confiança da AQIM, ele ficou-lhes com os reféns ainda antes do pagamento do resgate, tendo oferecido aos franceses ajuda no combate ao “aliado” que tinha enganado. Ele ficou com o dinheiro do resgate, pensando que com os 20 milhões de euros, os seus próprios combatentes e a ajuda das forças especiais francesas poderia tanto vencer a AQIM como ocupar um lugar na arena política do Mali.

Os confusos esquemas dos acordos secretos dos serviços secretos franceses com este tipo de “aliados” também explicam a estranha situação que se vive na cidade. Todo o poder está aqui nas mãos do MNLA, que inclui nas suas fileiras bastantes indivíduos tanto ligados à AQIM, como ao Ansar Dine. O MNLA negociou para si o direito a não depor as armas. Os 200 militares da força de paz da ONU (MINUSMA) e as várias centenas de soldados malianos, fechados nas suas casernas para não perturbar os separatistas com a sua presença, não estão claramente em condições de manter a ordem. O MRE francês declarou a cidade como “zona vermelha”. Apesar dos acordos formais em sentido contrário, os separatistas não permitem a entrada na cidade de representantes do poder central. Em setembro três ministros do governo do Mali foram aqui apedrejados.

É verdade que em Kidal também se encontra o posto de comando Opération Serval, a força de operações especiais francesa para o norte do Mali. Dos três mil efetivos militares franceses presentes no Mali aqui, antes do assassinato dos jornalistas, havia apenas 200 militares franceses. Agora eles são 350. Isso é manifestamente insuficiente para a manutenção da ordem. Mas o Serval não se ocupa da manutenção da ordem, mas da realização de operações especiais em regiões longínquas do país. Numa situação destas, os terroristas não teriam provavelmente qualquer dificuldade em entrar de forma completamente legal em Kidal, raptar os jornalistas de debaixo do nariz dos comandos franceses e deixar a cidade sem ser vistos pelos drones franceses.

Aliás, os próprios jornalistas pisaram claramente a linha do risco admissível. Eles foram vivamente aconselhados a não visitar Kidal. Eles não informaram as autoridades porque temiam, e com razão, que estas não iriam autorizar a viagem. Eles preferiram voar para Kidal num avião da MINUSMA e não num aparelho do contingente militar francês. Por fim, estando na cidade mais perigosa do país eles nem sequer recorreram a uma escolta armada.

Tragédias semelhantes a esta ocorrem com regularidade em todos os “pontos quentes” do mundo. Uma ausência de objetivos e estratégias claramente definidos, aliados que não são de confiança, um poder central e forças de segurança fracos, quem tem culpa da morte de pessoas inocentes? Todos.

Voz da Rússia

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